quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eça de Queirós

José Maria de Eça de Queirós[nb 1] (Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Paris, 16 de agosto de 1900) é um dos mais importantes escritores lusos.[1] Foi autor, entre outros romances de importância reconhecida, de Os Maias e O crime do Padre Amaro; este último é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX.
[nb 1]Queiroz é a grafia na época em que viveu o escritor. A vigente ortografia da língua portuguesa determina que a forma correcta é Queirós. Tal recomendação está presente em todos os acordos ortográficos elaborados, desde 1943, pela Academia de Ciências de Lisboa em parceria com a Academia Brasileira de Letras. De acordo com a onomástica, atualiza-se qualquer referência ao nome do biografado, permanecendo seu registro original.
Obras

* O mistério da estrada de Sintra (1870) (eBook)
* O Crime do Padre Amaro (1875) (eBook)
* A tragédia da rua das flores (1877-78)
* O Primo Basílio (1878)
* O mandarim (1880) (eBook)
* As minas de Salomão (1885) (eBook)
* A relíquia (1887) (eBook)
* Os Maias (1888)
* Uma campanha alegre (1890-91)
* O tesouro (1893)
* A Aia (1894)
* Adão e Eva no paraíso (1897)
* Correspondência de Fradique Mendes (1900) (eBook)
* A Ilustre Casa de Ramires (1900)
* A cidade e as serras (1901, póstumo) (eBook)
* Contos (1902, póstumo) (eBook)
* Prosas bárbaras (1903, póstumo)
* Cartas de Inglaterra (1905, póstumo) (eBook)
* Ecos de Paris (1905, póstumo)
* Cartas familiares e bilhetes de Paris (1907, póstumo)
* Notas contemporâneas (1909, póstumo)
* Últimas páginas (1912, póstumo)
* A Capital (1925, póstumo)
* O conde de Abranhos (1925, póstumo)
* Alves & Companhia (1925, póstumo)
* Correspondência (1925, póstumo)
* O Egipto (1926, póstumo)
* Cartas inéditas de Fradique Mendes (1929, póstumo)
* Eça de Queirós entre os seus - Cartas íntimas (1949, póstumo).

domingo, 8 de agosto de 2010

Questionário: Realismo- a realidade desnuda

1) Com o advento do Realismo, o que terminou?
2) O que a segunda metade do século XIX presencia?
3) Como a arte e a literatura refletem as mudanças?
4) Quais obras dão início às facetas do Realismo?
5) Quais os seus aspectos em comum?
6) De modo geral como se podem definir o Naturalismo e o Parnasianismo?
7) Que tipo de herói nós vemos a partir do Realismo?
8) Faça um quadro comparativo entre o Romantismo e o Realismo.
9) Descreva a sociedade da segunda metade do século XIX.
10) Que houve de marcante em 1848?
11) Diferencie o socialismo científico do utópico.
12) Quais correntes materialistas se desenvolveram naquela época? Descreva-as.
13) Que se exigia dos escritores em tal contexto?
14) Por que a designação Realismo não é totalmente adequada?
15) O que Realismo daquele século preconiza?
16) O que o Naturalismo busca?
17) O que objetiva o Parnasianismo?
18) De que o Realismo e o Naturalismo sofrem influência?

domingo, 1 de agosto de 2010

Exercício de fixação – Realismo e Naturalismo

Exercício de fixação – Realismo e Naturalismo

01. O realismo foi um movimento de:

a) volta ao passado;
b) exacerbação ultra-romântica;
c) maior preocupação com a objetividade;
d) irracionalismo;
e) moralismo.


02. A respeito de Realismo, pode-se afirmar:

I – Busca o perene humano no drama da existência .
II – Defende a documentação de fatos e a impessoalidade do autor perante a obra.
III – Estética literária restritamente brasileira; seu criador é Machado de Assis.

a) São corretas apenas II e III.
b) Apenas III é correta.
c) As três afirmações são corretas.
d) São corretas I e III.
e) As três informações são incorretas.


03. Considerando-se iniciado o movimento realista no Brasil quando:

a) Aluísio de Azevedo publica O Homem.
b) José de Alencar publica Lucíola.
c) Machado de Assis publica Memória Póstumas de Brás Cubas.
d) As alternativas a e c são válidas.
e) As alternativas a e b são válidas.


04. O realismo, como escola literária, é caracterizado:

a) pelo exagero da imaginação;
b) pelo culto da forma;
c) pela preocupação com o fundo;
d) pelo subjetivismo;
e) pelo objetivismo.


05. Podemos verificar que o Realismo revela:

I – senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o
passado ou para o futuro.
II – o retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um
sentido para o encadeamento dos fatos.
III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos
conflitos, dos êxitos e dos fracassos.

Assinale:

a) se as afirmativas II e III forem corretas;
b) se as três afirmativas forem corretas;
c) se apenas a afirmativa III for correta;
d) se as afirmativas I e II forem corretas;
e) se as três afirmativas forem incorretas.


06. Das características abaixo, assinale a que não pertence ao Realismo:

a) Preocupação critica.
b) Visão materialista da realidade.
c) Ênfase nos problemas morais e sociais.
d) Valorização da Igreja.
e) Determinismo na atuação das personagens.


07. Assinale a única alternativa incorreta:

a) O Realismo não tem nenhuma ligação com o Romantismo.
b) A atenção ao detalhe é característica do Realismo.
c) Pode-se dizer que alguns autores românticos já possuem certas características realistas.
d) O cientificismo do século XIX forneceu a base da visão do mundo adotada, de um modo geral, pelo
Naturalismo.
e) O Realismo apresenta análise social.


08. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo: Certo não lhe falta imaginação; mas
esta tem suas regras, o astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as
fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.
Com base nesse texto, notamos que o autor:

a) Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária deve decorrer de uma elaborada
produção dos autores.
b) Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma estética oposta à
clássica.
c) Entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por
movimentos literários específicos.
d) Defende a idéia de que cada movimento literário deve ter um programa estético rígido e inviolável.
e) Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideal para pôr termo à falta de invenção
dos românticos.

09. Examine as frases abaixo

I – Os representantes do Naturalismo faze aparecer na sua obra dimensões metafísica do homem, passando
a encará-lo como um complexo social examinando à luz da psicologia.
II – No Naturalismo, as tentativas de submeter o Homem a leis determinadas são conseqüências das
ciências, na segunda metade do século XIX.
III – Na seleção de “casos” a serem enfocados, os naturalistas demonstram especial aversão pelo anormal e
pelo patológico.

Pode-se dizer corretamente que:

a) só a I está certa;
b) só a II está certa;
c) só a III está certa;
d) existem duas certas;
e) nenhuma está certa.


10. Das citações apresentadas abaixo, qual não apresenta, evidentemente, um enfoque naturalista?

a) Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente.
b) ... as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris
trêmulos e as tetas opulentas.
c) Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos.
d) ... batiam-lhe com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da
musculatura, como se estivesse a comprar cavalos.
e) À porta dos leilões aglomeravam-se os que queriam comprar e os simples curiosos.

11. O mesmo da questão anterior:

a) Viam-se deslizar pela praça os imponentes e monstruosos abdomes dos capitalistas.
b) ... viam-se cabeças escarlates e descabeladas, gotejando suor por debaixo do chapéu de pêlo.
c) O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso
e espalmado pé descalço.
d) A Praia Grande, a Rua da Estrela contrastavam todavia com o resto da cidade, porque era aquela hora
justamente a de maior movimento comercial.
e) ... uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, chio de sangue e coberto por
uma nuvem de moscas...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

QUESTIONÁRIO – ROMANTISMO NO BRASIL – PROSA 2

QUESTIONÁRIO – ROMANTISMO NO BRASIL – PROSA 2
1) Quais os gêneros que José de Alencar desenvolveu?
2) A que projeto estava voltada a sua produção?
3) Qual a importância da pesquisa linguística?
4) Quais as principais realizações indianistas de Alencar?
5) Discorra sobre o romance O Guarani.
6) Qual o objetivo do romance regionalista?
7) Como se realizou tal trabalho?
8) O romance regionalista se baseou nos modelos europeus? Por quê?
9) Qual o resultado alcançado pelo romance regionalista?
10) Quais espaços nacionais despertaram maior interesse entre os escritores românticos?
11) Qual romance descreve as capitais e qual descreve os demais espaços?
12) De onde Taunay colheu experiências para as suas obras?
13) Discorra sobre o romance Inocência.
14) Em contraposição aos temas antigos, o que o romance romântico retrata?
15) Quem se via em tais romances?
16) Quais os destaques entre os romances urbanos?
17) Em que o romance Memórias de um sargento de milícias é diferente?
18) Discorra sobre aquele romance.
19) Quais os ingredientes básicos do romance urbano romântico?
20) Que temas também são abordados no romance Senhora?
21) Discorra sobre aquela obra.
22) Quais os elementos da prosa gótica?
23) Quais obras atuais remetem àquele gênero?
24) Que obras românticas brasileiras representam a tradição gótica?
25) Como a literatura gótica é encarada geralmente?
26) Explique a relação entre tal literatura e o cinema.
27) Explique a relação entre tal literatura e o rock.
28) Que obras representam a produção gótico-romântica brasileira?
29) Que temas encontram-se nas narrativas da obra Noite na taverna?

domingo, 13 de junho de 2010

Questionário- Romantismo Brasileiro: Prosa

Questionário- Romantismo Brasileiro: Prosa

1) Quais fatores propiciaram ampla aceitação do Romantismo entre os leitores de literatura no Brasil?
2) Sob que forma o romance surgiu no Brasil e na Europa? O que é?
3) Que duas conquistas o folhetim alcançou?
4) Quem formava o público leitor de folhetins?
5) Compare os destinos do folhetim e do romance.
6) Como o autor de folhetins mantinha o público cativo?
7) Qual o grande empenho de artistas e intelectuais após a independência? Quais perguntas queriam responder?
8) Qual o papel que o romance assumia?
9) No caminho de “re-descobrir” o país, a que está radicalmente ligado o romance brasileiro?
10) Quais são os espaços nacionais no Romantismo? A que romances deram origem?
11) Quais as características da prosa romântica?
12) Quais os destaques do indianismo na poesia e na prosa?
13) Quais fatores contribuíram para a ampla aceitação do indianismo?
14) Por que o negro não se tornou o herói romântico?

I-Juca-Pirama

I-Juca-Pirama
Gonçalves Dias
I Juca Pirama

I

No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d’outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam se em torno dum índio infeliz.
Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: — de um povo remoto
Descende por certo — dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro
Assola se o teto, que o teve em prisão;
Convidam se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.
Acerva se a lenha da vasta fogueira,
Entesa se a corda de embira ligeira,
Adorna se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.
Entanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já querem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia lhe a fronte gentil canitar.

II

Em fundos vasos d’alvacenta argila ferve o cauim;
Enchem se as copas, o prazer começa, reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam, sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso jamais verá!
A dura corda, que lhe enlaça o colo, mostra lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve do que o festim!
Contudo os olhos d’ignóbil pranto secos estão;
Mudos os lábios não descerram queixas do coração.
Mas um martírio, que encobrir não pode, em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto na fronte audaz!
Que tens, guerreiro? Que temor te assalta no passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram, folga morrendo.
Folga morrendo; porque além dos Andes revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos da fria morte.
Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva, lá murcha e pende:
Somente ao tronco, que devassa os ares, o raio ofende!
Que foi? Tupã mandou que ele caísse, como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado esmoreceu!
Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos da fria morte.

III

Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A quem do sacrifício cabe as honras.
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na destra mão sopesa a ivirapeme,
Orgulhoso e pujante. — Ao menor passo
Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,
Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d'imigos feros.
“Eis me aqui, diz ao índio prisioneiro;
“Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
“As nossas matas devassaste ousado,
“Morrerás morte vil da mão de um forte.”
Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
“Dize nos quem és, teus feitos canta,
“Ou se mais te apraz, defende te.” Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.

IV

Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes — escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz
Aos golpes do imigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja — dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixa me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer.

V

Soltai o! — diz o chefe. Pasma a turba;
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam se as prisões, a embira cede,
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo,
— Timbira, diz o índio enternecido,
Solto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,
Com olhos onde a luz já não cintila,
Chore a morte do filho o pai cansado,
Que somente por seu na voz conhece.
— És livre; parte.
— E voltarei.
— Debalde.
— Sim, voltarei, morto meu pai.
— Não voltes!
É bem feliz, se existe, em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!
— Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer!
— És livre; parte!
— Ora não partirei; quero provar te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.
— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.
Sobresteve o Tupi: arfando em ondas
O rebater do coração se ouvia
Precipite. Do rosto afogueado
Gélidas bagas de suor corriam:
Talvez que o assaltava um pensamento...
Já não... que na enlutada fantasia,
Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,
Do velho pai a moribunda imagem
Quase bradar lhe ouvia: Ingrato! ingrato!
Curvado o colo, taciturno e frio,
Espectro d’homem, penetrou no bosque!


VI

— Filho meu, onde estás?
— Ao vosso lado;
Aqui vos trago provisões: tomai as,
As vossas forças restaurar perdidas,
E a caminho, e já!
— Tardaste muito!
Não era nado o sol, quando partiste,
E frouxo o seu calor já sinto agora!
— Sim, demorei me a divagar sem rumo,
Perdi me nestas matas intrincadas,
Reaviei me e tornei; mas urge o tempo;
Convém partir, e já!
— Que novos males
Nos resta de sofrer? — que novas dores,
No outro fado pior Tupã nos guarda?
— As setas da aflição já se esgotaram,
Nem para novo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta.
— Mas tu tremes
— Talvez do afã da caça...
— Oh filho caro
Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
Não conheces temor, e agora temes?
Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios.
Partamos!... — E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tateando as trevas
Da sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal correu lhe à mente...
Do filho os membros gélidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
Conhece estremecendo: — foge, volta,
encontra sob as mãos o duro crânio,
Despido então do natural ornato!...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambas os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e tão cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar correra o filho,
Ele o via; ele o tinha ali presente;
E era de repetir se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte!
— Tu prisioneiro, tu?
— Vós o dissesses.
— Dos índios?
— Sim.
— De que nação?
— Timbiras
— E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
— Nada fiz... aqui estou.
— Nada! —
Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
— Tu és valente, bem o sei; confesso,
Fizeste o, certo, ou já não foras vivo!
— Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia...
— E depois?...
—Eis me aqui.
—Fica essa taba?
— Na direção do sol, quando transmonta.
— Longe?
— Não muito.
— Tens razão: partamos.
— E quereis ir?...
— Na direção do ocaso.

VII

“Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedesses
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis — e mas foram
Senhores em gentileza.
“Eu porém nunca vencido,
Nem os combates por armas
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Manda! vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver me por pai se ufane!"
Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com torvo acento:
— Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto. —
Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!

VIII

“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde festas como asco e terror!
“Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E o oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
“Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sé maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.”

IX

Isto dizendo, o meserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. Alarma! alarma! O velho para.
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. Alarma! alarma!
— Esse momento só vale apagar lhe
Os tão compridos transes, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve se, enovela se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem.
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
— Basta! clama o chefe dos Timbiras,
— Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças.
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
“Este, sim, que é meu filho muito amado!
“E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
“Corram livres as lágrimas que choro,
“Estas lágrimas, sim, que não desonram.”
X

Um velho Timbira, coberto de glória,
guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Dizia prudente: “Meninos, eu vi!
“Eu vi o brioso no largo terreiro
cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
parece que o vejo,
Que o tenho nest’hora diante de mim.
“Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!”
Assim o Timbira, coberto de glória,
guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Tomava prudente: “Meninos, eu vi!”

QUESTIONÁRIO- ROMANTISMO-A ARTE DA BURGUESIA

QUESTIONÁRIO- ROMANTISMO-A ARTE DA BURGUESIA
1) Quais as duas concepções sobre a palavra romântico?
2) Estudar o Romantismo implica em que?
3) Nossa sociedade é fruto de que?
4) Em que aspecto o Arcadismo é revolucionário e onde é conservador?
5) Por que, em tal aspecto, é conservador?
6) Que tarefa caberia ao romantismo?
7) A que o Romantismo põe fim?
8) Com o que se confunde o nacionalismo presente na “ Canção do exílio”? Por quê?
9) Quais as características da linguagem romântica? Explique-as.
10) Faça um quadro comparativo entre o Romantismo e o arcadismo.
11) Qual a época representada culturalmente pelo Romantismo?
12) Tal época resulta de que?
13) Qual o contexto econômico, político e social daquela época?
14) Quais os berços do Romantismo? A que tais origens estão relacionadas?
15) Quais as contradições e as marcas próprias de uma revolução estão presentes no Romantismo?
16) Contra que idéias os românticos se rebelam?
17) No sistema capitalista, o que tem mais importância?
18) Onde a arte romântica se assemelha ao sistema em que se insere?
19) O que produzem no homem do século XIX a Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo?
20) Qual pode ser a razão do interesse dos românticos pela natureza e pela Idade Média?
21) Qual a relação entre a alienação capitalista e o universalismo romântico?
22) Qual o trinômio base da Revolução Francesa?
23) Qual a grande decepção dos jovens franceses de poucas décadas após a Revolução? Qual a conseqüência?
24) Qual a postura da Segunda Geração Romântica Brasileira e como se manifesta?
25) O que surge ao lado da tendência pessimista? A que geração romântica brasileira corresponde?
26) Que tipo de homem o Romantismo valoriza? O que despreza?
27) O que defendia Rousseau em sua teoria do Bom Selvagem?
28) Por que tais idéias ganham ampla aceitação no Brasil?
29) Qual a conclusão a que se chega em relação ao Romantismo?